sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Porque não tentar?

Actualmente fala-se na ascensão da esquerda, na agitação social como falhanço da direita e do capitalismo. Eu penso que, pelo contrário, o estado de coisas actual prova apenas que o que falhou foi ter uma postura de direita demasiado relaxada, demasiado centrista para agradar a todo o eleitorado. Pois bem, não agradou a ninguém penso eu, não me agradou nada a mim que sou bastante conservador em termos económicos e não agradou a alguns dos meus amigos mais de esquerda. Nobody is happy.

Para a questão muito particular das “obrigações” sociais do Estado sugiro uma solução que, no entanto reconheço ser de aplicabilidade reduzida e por isso necessariamente uma utopia. O Ministério do Trabalho e Segurança Social funciona baseado no pressuposto de que as pessoas precisam dos serviços que prestam as suas várias delegações. Foi criado para servir, basta estender a mão. Esta facilidade não cria o ónus das famílias terem (realmente) de provar da sua necessidade de subsídio de desemprego, de abono de família, de RSI etc. Dever-se-iam eliminar todas as prestações, todas as categorias de prestações, e tudo o resto assente em pressupostos e presunções de necessidades. Em vez disso, criar-se-ia um Organismo (Ministério das dotações?) que categorizava as famílias (todas) com base nos seus rendimentos, agregado familiar e demais condicionantes. Com base nessas características seria atribuída uma única prestação global com base nas suas necessidades. Essas prestações deveriam ser sempre pontuais, ou seja não deveria ter um carácter mensal para não criar “vícios”, deveria existir a possibilidade de reembolso caso a situação económica da família melhorasse significativamente ou fosse detectada burla. E as famílias teriam sempre e sem excepção o ónus de provar a sua necessidade real de forma periódica.

Assim, as grandes mudanças seriam essencialmente duas. A primeira é que cada agregado familiar seria visto de forma integrada quanto às suas necessidades, o que aumentaria a eficiência da prestação e evitaria redundâncias dos próprios serviços que as administram. No lugar de todos os serviços e departamentos olharem para todas as famílias haveria um único serviço que dividiria os seus recursos de modo a distribuí-los por cada uma das famílias portuguesas. No limite cada família teria o seu próprio “delegado” ou “procurador” junto do Ministério. A imparcialidade dessa responsável seria um problema, confesso. A segunda grande mudança seria a transferência do ónus da prova para as famílias, o que seria complicado mas poderia trazer uma grande diminuição das autênticas “cowboiadas” que se praticam em Portugal.
Como já disse, reconheço que este método é de execução difícil, mas julgo que não deixa de ser uma perspectiva útil e de onde se poderia retirar alguma da sua estrutura conceptual para se aplicar ao modelo que actualmente existe e que está a quebrar-se sobre o seu próprio peso.

PS: em vez de me estar a armar em espertalhão devia estar agora no Plano B com o john...Mas estou tão cansado.. sorry John!! :)
abraço

Custos Escondidos = Resultados Surpresa



Talvez pouca gente saiba mas andamos a pagar os nossos serviços públicos bem abaixo do seu preço de custo. Por isso, as contas de luz que parecem grandes, seriam ainda maiores se o Estado não se chegasse à frente por nós. Bem, na verdade não chega, fica, ficamos todos, a dever à EDP uma soma que se vai acumulando ao longo de vários anos e que já é de alguns milhares de milhões de euros (não me enganei nas unidades, infelizmente). Na minha opinião essa benfeitoria do Estado é perversa porque cria nas famílias a falsa sensação de baixo custo, já que poucas sabem que os serviços públicos são subsidiados.

Entendo a origem deste mecanismo, na sua fundação seria para tornar acessíveis às populações pobres os serviços básicos. Na verdade, agora o único efeito é deixar mais rendimento disponível para comprar um telemóvel novinho em folha, já que já não vivemos no país pobre que era Portugal antes do 25 de Abril por exemplo. Acho que seria de maior utilidade adoptar a sinceridade e transparência em todo o processo e cobrar aquilo que realmente gastamos. Senão depois não se venham queixar que os economistas não percebem nada, que falharam completamente na crise financeira e dos Estados e que o capitalismo não funciona. Com este tipo de intromissões na formação de preços pois claro que não funciona.
Já agora, eliminar a taxa de audiovisiual (?!!) na factura da EDP e a taxa de utilização de subsolo (what thaaaa fuck??!) na da GALP seria de bom senso. Quem vê tv que pague o que tem de pagar, ou então dêem um serviço (verdadeiramente) aberto de tv. E no gás, a taxa de utilização de subsolo é ridícula, apenas mais um pretexto das Câmaras (a GALP é apenas um agente) para cobrar mais impostos. Faz-me lembrar que, há uns séculos atrás o uso de bigode ou a existência de janelas nas casas era tributada…Lá chegaremos novamente.

Há outros exemplos de custos escondidos de algo que aparentemente é grátis ou barato (nem me façam voltar ao tema das pensões). E isto surge, na minha opinião, porque o Estado Social quer criar a imagem de um organismo que tudo dá e nada pede (leia-se impostos). Aqui, dou duas frases empacotadas que respondem a isto.
“Não há almoços grátis” e “Não perguntem o que o vosso país pode fazer por vocês mas o que vocês podem fazer pelo vosso país” de Adam Smith e John F. Kennedy.

Mais um texto para dar razão aos meus amigos que dizem que sou de direita.

Greve Geral 24 de Novembro. Antes de mais, esta greve ia prejudicar-me bastante uma vez que estava planeado viajar nesse dia. Afinal, a TAP conseguiu alterar-me as datas do voo sem cobrar mais 1€ e até me arranjou um horário melhor!! Não me vai afectar em nada, in your face, suckers!!

Quanto à greve acho giro: compram-se submarinos e ninguém vem para as ruas protestar, criam-se organismos públicos e ninguém diz nada, engrossa-se ainda mais o número de funcionários públicos e toda gente fica contente com o aumento do emprego, dá-se subsídios de desemprego/doença/RSI a quem não merece e os preguiçosos continuam felizes da vida e depois… Começa o governo a cortar, vem tudo a baixo e avançam as centrais sindicais para a greve geral.

Estava na cara que isto ia acontecer, mesmo eu que não sou muito de manifestações ou greves, até pudia simpatizar com estes movimentos se ocorressem nas alturas certas e não num dos períodos mais conturbados por que Portugal já passou. De facto, só quando nos afecta directamente na pele é que tomamos percepção que os gastos do estado saem do nosso bolso e que faz todo o sentido participarmos activamente na política organizarmo-nos enquanto movimento cívico e tomarmos acções antes que as coisas se tornem sérias. Contra mim falo que me mantenho à margem de qualquer iniciativa deste género.

Agora é tarde de mais, vamos ter que sofrer e nem a greve geral por mais adesão que tenha (e não acredito que vá ter muita) vai mudar alguma coisa.

Só mais uma coisa, os sindicalistas que criticam os gastos do estado, andam agora a vandalizar os bens públicos com convocatórias para a greve escritas nas paredes e estradas a tinta e que perdurarão por vários ano. Não é nada de especial mas diz muita coisa sobre estas pessoas...

domingo, 14 de novembro de 2010

Dos limites da tecnologia a um dia na praia

Há uns dias foi noticiado que um dos novos aviões da Airbus, o A380, pertencente à Quantas, foi obrigado a fazer uma aterragem de emergência porque um dos motores Rolls Royce começou a incendiar-se. Todos os aviões desse modelo deixaram de voar até estarem apuradas as causas do incidente. Poucos dias depois outros modelo, com motores igualmente da Rolls Royce também tive problema e foi obrigado a aterrar de emergência. Há poucos dias um dos Boeing 787, o modelo da Boeing concorrente do A380 que ainda não está em produção em serie, teve um início de incêndio a bordo num dos seus voos de testes e todos esses voos de teste foram cancelados. Para além deste problemas actuais, ambos os construtores aeronáuticos tiveram no passado imensos problemas a desenvolveram os seus super-aviões, com grandes atrasos e grandes derrapagens de orçamentos.

A Rolls Royce é um dos melhores construtores de motores, sendo que as suas máquinas saem da fábrica repletas de sensores com a função de descobrirem problemas antes que eles aconteçam.

Apesar de tudo, os problemas simplesmente têm acontecido. Será que o nível de sofisticação tecnológica chegou a tal ponto que é impossível evitar que os problemas surjam? Será que estamos a querer mais do que conseguimos, dado o nosso nível de evolução? Será que a tecnologia tem limites, ou pelo menos limites quanto ao ritmo da sua evolução?

Segundo a Lei de Moore a capacidade de armazenamento de um microship duplica 18 meses, será a lei aplicável à maioria da tecnologia? E se não, qual o impacto económico dessa realidade?

A minha ideia é de que o progresso tecnológico e económico andam de mãos dadas mas os grandes crescimentos económicos dão-se quando se dão grandes choques tecnológicos sendo que a curva abranda com as pequenas melhorias subsequentes (chamemos-lhe apenas evolução). Veja-se o caso da revolução industrial, com a invenção da máquina a vapor. Veja-se, no limite, a descoberta da roda na antiguidade, arriscaria a dizer que essa invenção potenciou o crescimento económico, seja qual fosse a forma que tal assumia na altura.

Admitindo que a última grande revolução foi a invenção da informática/processadores, penso que já está um pouco esgotada. Não ultrapassada, mas sim esgotada no sentido de potenciar mais crescimento económico., sendo por isso necessária outra descoberta, ou outra invenção que volte a criar um choque. Julgo que muitos pensavam que as energias renováveis poderiam preencher esse espaço. A crise económica veio mostrar que isso ainda está muito atrasado e foi dos primeiros sectores onde se cortaram apoios e incentivos, foi uma moda relativamente passageira. A energia nuclear, por outro lado, poderia revolucionar por completo a economia e tudo o resto, caso fosse suficientemente segura para ter usos mais correntes em mais indústrias.
Outra tendência que poderá vingar é um retrocesso e um revisitar de tecnologias pelas quais a sociedade passou demasiado rápido sem ter tempo de se esgotar o seu potencial. Regresso ao tema dos transportes. O comboio foi criado há mais de 100 anos e continua a ser um meio de transporte indispensável. A indústria automóvel não conseguiu apagá-lo, nem a aviação. Desde que o comboio foi inventado o Homem já foi à lua mas as pessoas continuam a viajar em latas de aço dependentes e limitadas a um circuito de carris. Acho fantástico como algumas coisas tão simples e rudimentares são tão úteis e eficazes. Bem não vamos incluir aqui a CP já que no momento em que escrevo este texto estou a bordo do Intercidades que vai, inevitavelmente e como sempre, chegar profundamente atrasado ao seu destino...

Na vertente económica, penso que não devemos por isso esperar crescimentos económicos constantemente brilhantes, já que para além dos ciclos económicos que duram uma década ou menos, mais importante ainda serão essas grandes revoluções que mudam modelos inteiros de negócio e que afectam a vida das sociedades de uma maneira profunda. No entretanto, irão surgindo pequenas evoluções tecnológicas, que, apesar desse adjectivo, facilitarão a vida das pessoas e mesmo não havendo um grande crescimento económico haverá algo que não será tangível mas que trará igualmente benefícios: qualidade de vida.

No campo das revoluções uma das áreas em que mais aposto que poderá ocorrer um choque é na saúde. Suponhamos que, independentemente da sua origem (clonagem, células estaminais, etc), seja possível prolongar significativamente a vida das pessoas. Se, com medidas preventivas ou reactivas se dá a capacidade de em média se viver até aos 150 anos. Isso traria uma grande revolução na economia e na sociedade. E não se pense que tal ideia é completamente absurda. A esperança de vida já foi de 40 anos. Hoje são mais de 70 e no espaço de uma geração conseguimos acrescentar um ano a essa marca. Uma revolução na medicina poderia acelerar esse processo dramaticamente.

Se o aumento da esperança média de vida foi uma das causas para a falência dos sistemas de Segurança Social a nível mundial, o que prejudica fortemente as finanças dessas Nações e se esse aumento da esperança média de vida foi acontecendo de maneira lenta, o que teria acontecido se tal acontecesse apenas em 5 anos e não durante os últimos 40 anos?

Não acredito que seria a implosão da sociedade. Acredito que não haveria oportunidade para criar vícios na gestão das receitas (contribuições) e dos custos (pensões). As reformas seria menores mas toda a sociedade estaria ciente de que não haveria outra solução. Basicamente dispensar-nos-ia a toda uma miopia e acomodamento que afecta qualquer organismo vivo que sofra uma mudança certa mas de evolução lenta. Acho que a sociedade acaba por ser alguém que chega à praia de manhã com o tempo nublado. Não hà necessidade de por protector solar. Ao fim do dia, no regresso a casa os efeitos serão visíveis.