domingo, 14 de março de 2010

Payback time




A indústria financeira é umas das que mais riqueza gera no mundo e cujos tentáculos se estendem a quase tudo.
Foi essa indústria uma das culpadas da crise dos últimos anos. Convém dizer que não foi a única já que enfrentamos uma recessão cíclica que não foi provocada apenas pelo subprime norte-americano. Mas a verdade é que essa mesma indústria financeira que ajudou a enterrar quase uma década de crescimento económico foi a mesma que depois foi ajudada pelos governos nacionais dos diversos países. E agora, esses grandes bancos, já revitalizados, têm negociado nos mercados financeiros produtos derivados de dívida soberana, como os credit defaults swaps, que basicamente apostam na falência de países como a Grécia, Portugal ou Espanha. Como se isso não bastasse as agências de rating avisam os países de possíveis downgrades (tendo já descido a notação mesmo no caso grego), como a Portugal, o que basicamente significa que os juros que pagamos vão subir.

De um modo simples, o que se assiste é que a indústria financeira está a morder na mão (do Governo) que há uns meses lhe deu de comer, que a salvou da falência eminente. É muito bem feita e deviam ficar sem a mão, tiveram o que mereceram. Quando eu vejo um cão acorrentado e espumar pela boca e a ladrar violentamente a última coisa em que penso é em chegar-me perto. Os Estados chegaram perto e puseram um pratinho com um bife suculento e cheio de proteínas... O cão ganhou força, partiu as correntes e atacou os Estados... Óbvio.

A solução seria deixar morrer esses cães raivosos, mas enfim, as pessoas que passam na rua (eleitores) poderiam ver aquela cena e achar que os Estados estavam simplesmente a ser cruéis e ainda perderiam as eleições o que é uma maçada.

Pois, what goes around comes around...

Apita o comboio à beira do mar




Esta é uma das coisas que me irritam solenemente...Há meio ano toda a gente era contra o TGV, um projecto acarinhado pelo actual Governo mas que muitos consideravam (já vão perceber o tempo verbal) um gasto inútil e gerador de mais encargos sobre as gerações futuras. Concordo inteiramente e só alguém sem conhecimento das finanças do nosso pais poderá discordar. Mas agora com PEC começo a ler nos jornais algo estranho. O Governo decide adiar o projecto de alta velocidade (aléluiaaa) e levantam-se inúmeras vozes contra este facto, porque geraria muitos postos de trabalho etc etc. Não vou discutir aqui o racional de cada argumento, quero apenas fazer notar que não se pode estar sempre “no contra”. Ou se defende o TGV (ou qualquer outro projecto) ou não, independente se estarmos correctos ou não. Estar simplesmente contra as decisões do Governo não é uma posição em si, apenas mostra tacanhez e falta de espírito crítico.



Não resisto a deixar alguns comentários relativamente ao TGV em particular. As ligações Porto-Vigo e Lisboa-Porto foram adiadas mas a Lisboa-Madrid não, estando já em curso a sua construção. É impressão minha ou as ligações aéreas, ferroviárias e rodoviárias (até marítimas se as houvesse...) Lisboa-Madrid são bem melhores que as Porto-Vigo (relativamente às Lisboa-Porto tenho dúvidas)?! Ou seja vai-se começar por construir ligações para as quais já existem infra-estruturas razoáveis e adiar ligações que ainda têm muitas carências. Como vocês sabem eu não tenho complexos de inferioridade por ser nortenho mas acho isto inaceitável...


E começou-se já a todo o vapor com Lisboa-Vigo, porque em Portugal quando se inicia uma obra já é muito mais difícil embargá-la ou pará-la. Isto acontece nas obras públicas e na construção civil. Assenta-se tijolos e alcatrão primeiro, faz-se as perguntas depois, as coisas já estão a andar e ninguém terá coragem de as interromper...até quando?

Um título de uma coluna do Diário Económico dizia no outro dia “Um keynesiano na penúria é um liberal”. Não podia estar mais de acordo, quem não tem dinheiro não tem vícios, se o Estado não tem dinheiro não gasta, nada é mais básico que isto.

Andamos a brincar com coisas sérias.