domingo, 14 de março de 2010

Apita o comboio à beira do mar




Esta é uma das coisas que me irritam solenemente...Há meio ano toda a gente era contra o TGV, um projecto acarinhado pelo actual Governo mas que muitos consideravam (já vão perceber o tempo verbal) um gasto inútil e gerador de mais encargos sobre as gerações futuras. Concordo inteiramente e só alguém sem conhecimento das finanças do nosso pais poderá discordar. Mas agora com PEC começo a ler nos jornais algo estranho. O Governo decide adiar o projecto de alta velocidade (aléluiaaa) e levantam-se inúmeras vozes contra este facto, porque geraria muitos postos de trabalho etc etc. Não vou discutir aqui o racional de cada argumento, quero apenas fazer notar que não se pode estar sempre “no contra”. Ou se defende o TGV (ou qualquer outro projecto) ou não, independente se estarmos correctos ou não. Estar simplesmente contra as decisões do Governo não é uma posição em si, apenas mostra tacanhez e falta de espírito crítico.



Não resisto a deixar alguns comentários relativamente ao TGV em particular. As ligações Porto-Vigo e Lisboa-Porto foram adiadas mas a Lisboa-Madrid não, estando já em curso a sua construção. É impressão minha ou as ligações aéreas, ferroviárias e rodoviárias (até marítimas se as houvesse...) Lisboa-Madrid são bem melhores que as Porto-Vigo (relativamente às Lisboa-Porto tenho dúvidas)?! Ou seja vai-se começar por construir ligações para as quais já existem infra-estruturas razoáveis e adiar ligações que ainda têm muitas carências. Como vocês sabem eu não tenho complexos de inferioridade por ser nortenho mas acho isto inaceitável...


E começou-se já a todo o vapor com Lisboa-Vigo, porque em Portugal quando se inicia uma obra já é muito mais difícil embargá-la ou pará-la. Isto acontece nas obras públicas e na construção civil. Assenta-se tijolos e alcatrão primeiro, faz-se as perguntas depois, as coisas já estão a andar e ninguém terá coragem de as interromper...até quando?

Um título de uma coluna do Diário Económico dizia no outro dia “Um keynesiano na penúria é um liberal”. Não podia estar mais de acordo, quem não tem dinheiro não tem vícios, se o Estado não tem dinheiro não gasta, nada é mais básico que isto.

Andamos a brincar com coisas sérias.

2 comentários:

João disse...

O TGV é uma bandeira do governo, por isso não há muito a fazer. Eu como anti-TGV até estou ligeiramente contente. A linha mais inútil (Porto-Lisboa)para já não vai ser feita.
Quanto ao resto não há dúvida que é tudo para Lisboa, mas defendendo eu que qualquer uma das linhas são inúteis, ainda assim a Lisboa-Madrid deve ser aquela que terá mais utilização e que deve cumprir melhor o objectivo "imposto" de ligar-nos ao resto da UE.

Nuno disse...

João, estou completamente de acordo, aliás não estou ligeiramente contente por ter sido adiado, estou antes ligeiramente desiludido por não ter sido definitivamente cancelado. A minha esperança é que com uma mudança de Governo este projecto seja engavetado e se deite a chave fora (mas só até Portugal ter 100 milhões de habitantes e meio milhão de quilometros quadrados) mas como disse o André na política o que dizem hoje não dizem amanhã. Apesar de tudo a linha para Madrid é a que menos me incomoda. Esperemos é que o keynesiano na penúria não se porte como um fidalgo arruinado que quer fazer vida de burguês.