sábado, 6 de março de 2010

O nosso fado não é este.



Vem isto a propósito de uma análise que li no jornal Público e que analisava alguns dados de Portugal entre 1990 e 2008.

Como será que nós, os desgraçados de sempre, evoluímos em vários aspectos nos últimos anos?
Para começar, o mais importante: saúde. O número de médicos por cada 100.000 habitantes aumentou 30% (são 366 médicos para cada 100.000) e a taxa de mortalidade infantil caiu de 11 para 3 por cada mil crianças o que me parece francamente bom e num nível difícil de melhorar.
O número de crianças matriculadas na pré-primária quase duplicou apesar de haver menos crianças, o número de alunos no secundário aumentou (embora menos) e os diplomados aumentaram de 4% para 11,5% (por exemplo, o número de advogados quase triplicou em 20 anos!). O número de trabalhadores no sector primário é hoje metade do que em 1990 e até no sector secundário houve uma redução da população empregada sendo transferida para o sector dos serviços tipicamente mais qualificado e com mais valor acrescentado. O salário mínimo nacional cresceu 22% já descontando a inflação e, só mais um pormenor: os consumidores de espectáculos e cultura em geral aumentou 3.800%.

Tudo isto para quê?! Para defender o meu ponto de vista de que estamos já muito bem, mas infelizmente valoriza-se sempre mais o que ainda está para conquistar do que o já foi feito. Se a comparação fosse feita desde 1974 ainda veríamos uma evolução mais radical e surpreendente mas gosto de pensar que todas estas melhorias ocorreram no mesmo intervalo de tempo em que nós fizemos a nossa escolaridade, desde o infantário até à faculdade, só para termos uma referência mais concreta. Não é fantástico o que se conseguiu?

Temos tão maus governantes, os portugueses são uns preguiçosos e retrógrados, vivemos num país sem a mínima relevância a nível internacional em todos os aspectos (à excepção do desporto?!) e mesmo assim estamos a viver melhor.
Algo não bate certo e o que não bate certo tem a ver em parte com a imagem que temos de nós próprios, da mania da auto-comiseração e de ser mas fácil criticar tudo e todos sem analisar todos os factos.
A propósito, vou fazer isso mesmo: o que disse em cima é muito bom mas tenho que reconhecer que a justiça continua muito lenta (talvez ainda mais lenta), a corrupção agrava-se, o endividamento público e privado é no mínimo preocupante e os diplomados são diplomados mas nem por isso arranjam emprego digno.

É certo que há muito fazer mas já muito foi feito, é preciso valorizar isso, motivarmo-nos com os nossos próprios sucessos e inspirarmo-nos nisso para continuar a melhorar. Criticar construtivamente e lutar contra a passividade. Temos bons exemplos em Portugal, desde políticos portugueses em altos cargos internacionais (quer se goste deles ou não, Guterres, Sampaio e Barroso deveriam ser motivo de orgulho nacional) empresas portuguesas admiradas (e temidas!!) em todo o mundo como a EDP, Sonae, Cimpor, PT até a nossa produção cultural é apreciada (veja-se os preços que os quadros da Paula Rêgo ou as peças da Joanas Vasconcelos atingem nos mais prestigiados leilões) já para não falar nos sucessos desportivos.

Para finalizar: é preciso recordar do que somos capazes, ter ânimo, optimismo, coragem e espírito de sacrifício para levar Portugal para a frente, agora mais do que nunca!