domingo, 14 de novembro de 2010

Dos limites da tecnologia a um dia na praia

Há uns dias foi noticiado que um dos novos aviões da Airbus, o A380, pertencente à Quantas, foi obrigado a fazer uma aterragem de emergência porque um dos motores Rolls Royce começou a incendiar-se. Todos os aviões desse modelo deixaram de voar até estarem apuradas as causas do incidente. Poucos dias depois outros modelo, com motores igualmente da Rolls Royce também tive problema e foi obrigado a aterrar de emergência. Há poucos dias um dos Boeing 787, o modelo da Boeing concorrente do A380 que ainda não está em produção em serie, teve um início de incêndio a bordo num dos seus voos de testes e todos esses voos de teste foram cancelados. Para além deste problemas actuais, ambos os construtores aeronáuticos tiveram no passado imensos problemas a desenvolveram os seus super-aviões, com grandes atrasos e grandes derrapagens de orçamentos.

A Rolls Royce é um dos melhores construtores de motores, sendo que as suas máquinas saem da fábrica repletas de sensores com a função de descobrirem problemas antes que eles aconteçam.

Apesar de tudo, os problemas simplesmente têm acontecido. Será que o nível de sofisticação tecnológica chegou a tal ponto que é impossível evitar que os problemas surjam? Será que estamos a querer mais do que conseguimos, dado o nosso nível de evolução? Será que a tecnologia tem limites, ou pelo menos limites quanto ao ritmo da sua evolução?

Segundo a Lei de Moore a capacidade de armazenamento de um microship duplica 18 meses, será a lei aplicável à maioria da tecnologia? E se não, qual o impacto económico dessa realidade?

A minha ideia é de que o progresso tecnológico e económico andam de mãos dadas mas os grandes crescimentos económicos dão-se quando se dão grandes choques tecnológicos sendo que a curva abranda com as pequenas melhorias subsequentes (chamemos-lhe apenas evolução). Veja-se o caso da revolução industrial, com a invenção da máquina a vapor. Veja-se, no limite, a descoberta da roda na antiguidade, arriscaria a dizer que essa invenção potenciou o crescimento económico, seja qual fosse a forma que tal assumia na altura.

Admitindo que a última grande revolução foi a invenção da informática/processadores, penso que já está um pouco esgotada. Não ultrapassada, mas sim esgotada no sentido de potenciar mais crescimento económico., sendo por isso necessária outra descoberta, ou outra invenção que volte a criar um choque. Julgo que muitos pensavam que as energias renováveis poderiam preencher esse espaço. A crise económica veio mostrar que isso ainda está muito atrasado e foi dos primeiros sectores onde se cortaram apoios e incentivos, foi uma moda relativamente passageira. A energia nuclear, por outro lado, poderia revolucionar por completo a economia e tudo o resto, caso fosse suficientemente segura para ter usos mais correntes em mais indústrias.
Outra tendência que poderá vingar é um retrocesso e um revisitar de tecnologias pelas quais a sociedade passou demasiado rápido sem ter tempo de se esgotar o seu potencial. Regresso ao tema dos transportes. O comboio foi criado há mais de 100 anos e continua a ser um meio de transporte indispensável. A indústria automóvel não conseguiu apagá-lo, nem a aviação. Desde que o comboio foi inventado o Homem já foi à lua mas as pessoas continuam a viajar em latas de aço dependentes e limitadas a um circuito de carris. Acho fantástico como algumas coisas tão simples e rudimentares são tão úteis e eficazes. Bem não vamos incluir aqui a CP já que no momento em que escrevo este texto estou a bordo do Intercidades que vai, inevitavelmente e como sempre, chegar profundamente atrasado ao seu destino...

Na vertente económica, penso que não devemos por isso esperar crescimentos económicos constantemente brilhantes, já que para além dos ciclos económicos que duram uma década ou menos, mais importante ainda serão essas grandes revoluções que mudam modelos inteiros de negócio e que afectam a vida das sociedades de uma maneira profunda. No entretanto, irão surgindo pequenas evoluções tecnológicas, que, apesar desse adjectivo, facilitarão a vida das pessoas e mesmo não havendo um grande crescimento económico haverá algo que não será tangível mas que trará igualmente benefícios: qualidade de vida.

No campo das revoluções uma das áreas em que mais aposto que poderá ocorrer um choque é na saúde. Suponhamos que, independentemente da sua origem (clonagem, células estaminais, etc), seja possível prolongar significativamente a vida das pessoas. Se, com medidas preventivas ou reactivas se dá a capacidade de em média se viver até aos 150 anos. Isso traria uma grande revolução na economia e na sociedade. E não se pense que tal ideia é completamente absurda. A esperança de vida já foi de 40 anos. Hoje são mais de 70 e no espaço de uma geração conseguimos acrescentar um ano a essa marca. Uma revolução na medicina poderia acelerar esse processo dramaticamente.

Se o aumento da esperança média de vida foi uma das causas para a falência dos sistemas de Segurança Social a nível mundial, o que prejudica fortemente as finanças dessas Nações e se esse aumento da esperança média de vida foi acontecendo de maneira lenta, o que teria acontecido se tal acontecesse apenas em 5 anos e não durante os últimos 40 anos?

Não acredito que seria a implosão da sociedade. Acredito que não haveria oportunidade para criar vícios na gestão das receitas (contribuições) e dos custos (pensões). As reformas seria menores mas toda a sociedade estaria ciente de que não haveria outra solução. Basicamente dispensar-nos-ia a toda uma miopia e acomodamento que afecta qualquer organismo vivo que sofra uma mudança certa mas de evolução lenta. Acho que a sociedade acaba por ser alguém que chega à praia de manhã com o tempo nublado. Não hà necessidade de por protector solar. Ao fim do dia, no regresso a casa os efeitos serão visíveis.

2 comentários:

CEO disse...

Gostei!
Mas esqueces-te de uma revolução importante: i n t e r n e t !!! Dah!! Acho que se pode equiparar à roda ou à máquina a vapor, ou às duas juntas!!

Nuno disse...

Sim, concordo que as grandes revoluções tecnológicas que permitem os grandes saltos de produtividade e portanto de crescimento são raras e na maior parte do tempo o que há são pequenas melhorias e evoluções. Não acho que tenhamos chegado a nenhum limite, basta ver onde a Humanidade estava há apenas cento e tal anos; agora, a pergunta do milhão de dólares é qual será a próxima revolução.
Se eu tivesse de apostar, no meu papel de leigo, iria para o sector das energias, mas não das renováveis como eólica, geotérmica, etc. Hoje em dia temos reactores nucleares que produzem uma boa parte da energia dos países ocidentais. Estes reactores usam a fissão nuclear que, basicamente, consiste em "pegar" num átomo e dividi-lo em dois. A energia que se liberta nesse processo é o "lucro". No entanto, a ciência persegue há décadas o domínio da fusão nuclear, que consiste em "pegar" em dois átomos e fundi-los, passe a redundância. Este processo ocorre naturalmente nas estrelas. Isto liberta muito mais energia e não deixa lixo radioactivo para trás. O problema é que é caríssimo recriar em reactores as condições ideais à fusão nuclear porque ela só se dá a temperaturas altíssimas, pelo que acaba por ficar mais caro produzi-la do que o output final de energia. Por isso é que a "fusão a frio" é hoje um dos grandes cálices sagrados da ciência porque daria acesso a uma fonte de energia infinita e gratuita pois só requer alguns átomos de hidrogénio - que é o material mais abundante no Universo. Já imaginaram o que seria de um dia para o outro os custos da electricidade serem reduzidos para quase zero?