segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Catching a falling knife

O Estado tem uma habilidade para perder dinheiro incomparável. Vender por 40 milhões de euros algo que comprou (ou gastou) por 2400 milhões de euros. Estou a falar do BPN.

Neste momento tenho dúvidas que o banco valha apenas 40M. Primeiro porque a marca, apesar de tudo, é ainda valiosa. Depois porque apenas os depósitos são recursos muito valiosos nesta altura do campeonato. De qualquer forma, mesmo dando o benefício da dúvida admito que seja o preço justo.

E admito que a decisão de vender por menos do que outras ofertas que existiam, superiores a 100M, também tenha um racional, o do investidor adequado, idóneo etc.

Agora o que foi muito mal trabalhado foi a compra. Pois, um negócio tem destas coisas, é preciso comprar bem, não é só vender bem. E a compra e/ou o dinheiro que lá se enterrou para agora ter este desfecho é uma vergonha.

Agora o argumento do risco sistémico, dos depositantes, dos empregados.
Quanto ao primeiro argumento, quando se deixa muito claro, como ficou, que a nacionalização se prendia apenas com o facto de existirem fraudes, isto não dá lugar a risco sistémico. As pessoas correm ao banco quando há crise financeira e não quando há aldrabice num banco pequeno.
Quanto ao segundo argumento, para isso é que existe o fundo de garantia depósito, que se nunca entrar em funcionamento acaba por perder credibilidade. E existe o risco de se perder dinheiro com depósitos. Não existe tal coisa como taxa risk free. Podem de facto existirem pessoas que são defraudadas por bancários com menos escrúpulos que não lhes contam toda a verdade, mas para esses deveria haver lugar à indemnização e condenação respectiva. Mas isso dava para outro post, sobre a justiça portuguesa. Mesmo para as pessoas apelidadas de menos informadas, é acima de tudo uma questão de bom senso, por algum motivo o banco andava a dar taxas bem acima da concorrência... Mas a ganância é tramada. Além disso, o BPN era conhecido como o banco dos "ricos" e esses ricos supostamente tinham obrigação de ser pessoas financeiramente mas conscientes.
Quanto ao dos empregados que iriam ser despedidos...A tal proposta que ganhou, do BIC, compromete-se a manter apenas metade dos empregados, por isso não vejo qual foi a vantagem aqui...

Por último, há uma nuance, se nos próximos 5 anos os lucros do banco excederem 60M o Estado tem direito a 20% desse montante. Esta é uma cláusula usual neste tipo de negócios. Eu estou muito longe de ser um especialista em contabilidade mas sei o suficiente para dizer que é relativamente fácil ir mascarando os resultados para atrasar o reconhecimento de lucros... Basta atafulhar o banco de imparidades para crédito e outros custos upfront...E ainda dá uma imagem de gestão responsável, fica bem bonito...

2 comentários:

João disse...

Eu conheço mal o negócio, mas basta comparar o preço de venda e o custo que o Estado teve com a nacionalização para concluir que foi um mau negócio para nós (sim para nós).

Já agora gostava de conhecer melhor as outras ofertas.

Porque apesar de eventualmente o BIC até ser a melhor solução, a verdade é que houve uma oferta que ultrapassou oas 100 milhões.

E ser vendido a Angolanos e segundo ouvi dizer (sem certezas) esse Mira Amaral é/ou foi militante do PSD...cheira-me a negociata!

Nuno disse...

Pois, espero que eles publiquem as diferentes propostas para os cidadãos poderem analisar.

Estou de acordo em tudo o que dizes André, não havia risco sistémico, apenas fraude, ainda por cima era um banco pequeno. Além disso cada titular de uma conta tem garantidos 100.000 euros pelo fundo de garantia de depósitos. Hoje podemos concluir que o melhor a ter feito na altura era deixar falir, mas também temos de saber colocar as coisas em contexto: a crise financeira tinha acabado de eclodir e a pressão para agir e o medo (infundado) de contágio levou a esta decisão. Naquelas circunstâncias provavelmente todos os políticos tomariam a mesma decisão.

Só não concordo em relação à marca, não acho que hoje em dia seja valiosa, bem pelo contrário!

O Estado hoje vende por uma preço baixo porque já só se quer livrar daquilo, qualquer outra empresa já tinha fechado. O Ricardo Arroja disse que os 40 milhões deve ser o preço por metro quadrado da rede de balcões. Não deve andar longe da verdade...