sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Tááá carote...

Devo dizer que esta pequena observação que aqui deixo foi feita pelo meu chefe. Não é graxa porque ele não acompanha o nosso blog :p

“…
The Obama administration and outside economists have looked at various ways to supplement the main $787bn stimulus programme, which Mr Obama says has created “or saved” about 640,000 jobs.
…”
Fonte: FT 13.11.2009

$787 bn / 640,000 (vamos acreditar) = 1,229,688 USD … (um milhão, duzentos e vinte e nove mil, seiscentos e oitenta e oito dólares) por “emprego salvo”. Um bocadito caro, não?
Sejamos um pouco mais… tolerantes, simpáticos, optimistas… (?) e admitamos que os efeitos se continuarão a verificar de forma proporcional ao efectivo dispêndio do estímulo.


Ainda só foram gastos cerca de $200 bn, logo: $200 bn / 640,000 = 312,500 USD … (o PIB per capita dos EUA a Dez 08 era de 47,440, de acordo com o FMI). Um custo de mais de 6.5 x o PIB per capita… (nas contas anteriores seria 26 x…)

5 comentários:

CEO disse...

Paga-se USD 300.000 para conservar o emprego a alguém que só produz USD 47.000 né?! Não é lá muito bom negócio! De qualquer forma:

(1) entre os 640.000 empregos salvos haver de haver alguns (bastantes) que geram muito mais do que USD 47.000
(2) penso que os empregos salvos vão aumentar a riqueza por eles produzida de forma crescente num curto prazo
(3) é melhor contratar pessoal para fazer buracos e depois para os tapar do que simplesmente deixar cair no desemprego potenciais delinquentes, propulsores de revoltas sociais ou deixar que mais famílias entrem em default.

É certo que os planos de ajuda vão ajudar principalmente os bancos que provocaram toda a crise e o mais ridículo é que já há sinais de que ninguém aprendeu com tudo isto, mas a análise que fazes é demasiado superficial…

CEO disse...

Nota: USD 47.000 X 10anos = USD 470.000 Pronto, já pagaram a factura e já estão a dar lucro ao sr. Obama ao final de 10 (?!) anos

André disse...

Tens razão em tudo, mas repara: com as ajudas mantém-se empregos que simplesmente não são eficientes do ponto de vista de orientação produtiva dos EUA. Teria de haver destruição de emprego (e consequentemente PIB) para fazer recuar o produto potencial (output gap) para níveis razoáveis. assim, como não se destrói, empurra-se com a barriga o problema e quem vier atrás que lide com a batata quente.

E cavar e tapar buracos era a política do sr Keynes há muitos anos quando a divída dos EUA não tinha tantos zeros como agora.

Nuno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno disse...

Interessantes discussões que tens com o teu chefe André. Tu e ele têm razão é claro, não há qualquer sustentação económica para o investimento feito pela Administração para salvar todos estes empregos. No entanto, de forma paradoxal, estes estímulos tinham forçosamente de ser feitos:

- o processo de reequilíbrio estrutural da economia americana seria muito mais longo sem a intervenção estatal como se conclui pela análise de crises anteriores, especialmente a de 1929, apesar de aquela carecer do elemento da escassez de credito
- seria muito mais doloroso a nível social
- o papel do sentimento: sabemos que em economia o que parece, às vezes, tem mais influência do que o que é: sem acção pronta dos Governos corríamos o risco de entrar numa espiral descendente nascida do pânico que seria difícil de controlar
- acho que não podes generalizar e dizer que se está a salvar empregos ineficientes como diz o CEO; isso é verdade no processo normal de nascimento e morte das empresas ao longo dos anos, do qual o Estado se deve retirar, mas sabemos que muitas das empresas que faliram ou quase, prestavam serviços de topo e tinham pessoal muito qualificado, não tinha propriamente a 4ª classe quem trabalhava no Lehman. A empresa não faliu por razões económicas mas sim por razões financeiras. Mas penso que aqui te referias sobretudo aos fabricantes de automóveis, e bem, mas aí já devem ter entrado razões políticas.

Na minha opinião, os Governos devem gastar parcimoniosamente em tempos de bonança, para poderem gastar mais nestas alturas. Os EUA não têm feito isso, devido ao orçamento militar, entre outros. Daí que agora estão obrigados a contar com os empréstimos dos chineses que já detêm cerca de 1 trilião de USD em bonds do Governo americano (com todas as consequências ao nível da estratégia geopolítica que daí advêm, mas isso fica para outro post).

Também acho que o Keynesianismo é chão que já deu uvas - excepto em Portugal, onde continua a ser aplicado com enorme sucesso ;) - porque com a globalização vai muito parar ao estrangeiro, é um instrumento adequado em países com reduzida dívida, fracas infraestruturas, e de economia fechada.


Para concluir, e peço desculpa por me ter alongado tanto, penso que os estímulos foram necessários para travar a recessão. Não devem ser encarados como política económica normal mas de excepção. E finalmente, terão consequências:

-terão de ser feitos ajustamentos ao nível orçamental para acomodar os gastos feitos, esperemos que ao nível da despesa
-haverá um periodo relativamente prolongado de crescimento económico reduzido fruto da necessidade de controlar a despesa pública, da impossibilidade de se contar com o consumo privado devido às elevadas taxas de endividamento e ao problema imobiliario.

Acima de tudo, o que de melhor se poderia retirar desta recessão, é que nos países ocidentais a poupança passasse a ser encarada como algo importante de fazer e não um imposição do Estado ou uma chatice.