A propósito da visita da troika ao nosso país durante os próximos dias, ocorreu-me reflectir sobre o papel destas 3 instituições e da sua intervenção em Portugal. Há uns meses a Manuela Ferreira Leite cometeu a gaff de sugerir que talvez fosse benéfico suspender a democracia por uns tempos... Foi criticada por todos, mas actualmente, se não é isso que está a acontecer, anda lá muito perto.
Na Grécia a Troika é que diz o que se vai fazer, quando e como se vai fazer e isto é se o país quer “ajuda”, uma maneira simpática de fazer chantagem. Por cá a pressão ainda não é tão grande, mas lá chegaremos. Isto para dizer que a independência económica e de certa forma política é uma miragem nos países intervencionados, é um facto. A questão é: será benéfica?
Arrisco-me a dizer que sim.... Pelo menos em Portugal e desde 1974 que a lógica de governação tem sido baseada num descontrolo total em termos de finanças, não há uma estratégia de longo prazo e os governantes actuam apenas no sentido de se conservarem no poder o maior tempo possível. A intervenção da Troika inverteu esta actuação ainda que esteja a provocar um choque brutal que todos sentimos na pele. O actual governo toma as medidas que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo e tudo isso com a desculpa de que são medidas impostas pela Troika. Ora, mesmo com esta desculpa, dificilmente o governo de Passos Coelho sobreviverá às próximas eleições porque nos últimos dois anos do actual mandato não vai poder enveredar pelo habitual despesismo que caracteriza a aproximação das eleições, a Troika ainda andará em cima de nós.
Ao contrário de muita gente, penso que a intervenção da Troika deveria durar 10 anos ou mais porque acredito que estes senhores estão a forçar-nos a tomar medidas importantes e têm a visão para saberem que a partir de certo ponto será necessário equilibrar as medidas de austeridade com medidas para o crescimento. Por outro lado com a sua intervenção não haveria margem para o governo relaxar e deixar-se levar na tentação de afrouxar muitas medidas de austeridade que estão a ser levadas a cabo e que são essenciais para reduzir o sobreendividamento do Estado.
Agora, as medidas em concreto já mereciam outro post...
2 comentários:
Em relação a este tema eu tenho uma posição muito simples: os gregos (e nós) estão viciados em despesa pública e agora vem a ressaca. Tenho simpatia por eles e muitas das coisas que as instituições internacionais e governantes de outros países dizem e fazem a respeito da Grécia (e de nós) são desnecessariamente humilhantes. Mas tal não invalida que eles sejam os principais culpados da sua situação, ao contrário do que certa imprensa e certos partidos querem fazer crer. Não se trata de países bem geridos que foram apanhados por uns quantos especuladores amantes de charutos caros. Trata-se de povos que não se queixaram enquanto os seus Governos andaram a distribuir dinheiro e "direitos" à custa de acumulação de dívida e que estão a ser salvos da bancarrota por estrangeiros. É claro que o carácter de urgência trouxe vários atropelos ao processo democrático como prova a substituição do PM grego e italiano (li no WSJ que este último com a "ajuda" da Merkel) mas no geral acredito que a maioria silenciosa aceita (apesar de não gostar) a maior parte das medidas como o mal menor, apesar do muito barulho que se possa fazer.
Penso que uma questão mais interessante será debater, quando a poeira assentar, porque é que a Europa chegou ao ponto em que para salvar a sua economia tem de pôr a democracia em stand-by.
Acho que a democracia tem de ficar em stand-by porque de livre vontade ninguém quer apertar o cinto... Ainda hoje ao almoço com um amigo ele dizia "até o Krugman diz que não é preciso tanta austeridade"...E eu pensei "até quero ver se ele diz que o Krugman também falou e desvalorização dos salários..." Passado um bocado ele disse "ah e ele disse que era preciso desvalorizar os salários, mas com certeza não se referia a todos, os mais baixos não..."
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