domingo, 12 de junho de 2011

FACEBOOK

Disclosure: vou criticar o maior fenómeno do mundo contemporâneo, um sucesso entre miúdos e graúdos, uma enorme fonte de receitas, um propulsor de revoltas pró-democracia e ,mais importante de tudo, algo que não conheço bem: o Facebook.
Podem arremessar-me com os vossos argumentos mas quando lerem os meus baixem a guarda e digam-me o que vos faz estar no Facebook.

É certo que o Facebook é aquilo que nos quisermos que seja, depende do uso que lhe dermos mas a meu ver não passa de uma invenção fruto de uma casualidade, que depois foi aproveitada para satisfazer uma necessidade que ninguém tinha. Sim, verbo ter no pretério perfeito, porque agora já todos têm essa necessidade. Estão a ver os tablets? Ninguém precisava deles até alguém os inventar e o Facebook seguiu a mesma lógica. Quem viu o filme (muito bom!!) viu que a ideia era apenas arranjar uma companhia feminina, dito de forma simpática, mas a criação tornou-se num fenómeno e acabou por ficar descontrolada!

Detesto parecer-me com os velhotes rezingões mas se já tínhamos os e-mails, blogs, sites etc para quê o Facebook? Não consigo perceber e vocês já perceberam que não tenho conta nesta... nesta... Ah! Nesta “rede social”. Eu sou muito social, tenho 1.000 amigos, não conheço 500 deles, 200 não me conhecem a mim, nunca falei pessoalmente com os outros 200 e os 100 que restam nem sei muito bem como foram adicionados. E o pior é a cara de gozo/estupefacção quando digo que não tenho conta.

Tiago, viste as fotos das minhas férias?
Não, nem sabia que tinhas ido de férias.
Mas eu avisei no meu mural!! Vai ver as fotos.
Mas não tenho conta no Facebook.
?!!!?!!!?!!! O quê?! Oh pah, então deixa lá. Mas tenho pena que não possas ver.
Manda-me por mail ou põe no dropbox ou mostra-me no computador.
Oh... Abre mas é uma conta, deixa de ser antiquado!
E acabo por não ver fotos nenhumas...

Sim, dá para encontrar amigos que não vemos desde a escola primária. Precisamente aqueles que se encontrar-mos na rua fazemos de conta que não os conhecemos só para evitar a conversa de circunstância. Precisamente aqueles que vamos adicionar como amigos mas que nem nos passa pela cabeça combinarmos um jantar (uma hora a teclar serve perfeitamente o mesmo fim).
Conheço muita gente que faz uma utilização moderada e “racional” do Facebook mas também conheço outros tantos que são Facebook-dependentes, que de 5 em 5 minutos estão a actualizar o seu perfil através do iPhone, a fazer comentários sobre o estado do tempo ou de qualquer outra banalidade. Estou a almoçar, agora estou a trabalhar, agora vou sair do trabalho, agora espirrei. A não ser que sejam uma rock-star, ninguém quer saber, ok?!

Se fizessem um estudo para saber quantas horas as pessoas gastam (desperdiçam) do Facebook e um perfil social das pessoas que mais o usam de certeza que os resultados seriam surpreendentes Gastam não só uma boa parte do seu tempo livre como também gastam o tempo que não têm, prejudicando quem lhes é realmente próximo e o seu trabalho. Em termos de perfil social e psicológico penso que os resultados mostrariam uma pessoa insegura de si mesmo, com poucas ligações afectivas e uma vida profissional pouco ambiciosa ou mal sucedidos. Haverá excepções, mas não passarão disso mesmo: excepções.

O ano de 2010 e as revoluções no continente africano trouxeram um argumento de peso aos defensores do Facebook: sem esta rede social não seria possível coordenar diversos movimentos pró-democracia e tornar estas revoluções bem sucedidas. Pois bem, se me disserem que facilitaram as revoluções posso aceitar, mas tornar as redes sociais a base destas revoluções é algo que discordo totalmente. Em 74 tivemos uma revolução portuguesa e nem internet havia... Pôs-se a tocar a Grândola Vila Morena e resolveu-se o problema!!

Uma coisa é certa, há muita gente a ganhar dinheiro com esta rede social, já nem vou falar do Mark Zuckerberg, refiro-me antes às várias empresas que já marcam presença no Facebook. A essas não interessa a utilidade real do Facebook, interessa-lhes estar presente, perto dos seus consumidores, disfarçarem-se de utilizadores comuns, influenciar o consumo de forma subliminar e conseguirem assim chegar ao tipo de consumidores que mais lhes interessa, que facilmente se identificam com os produtos e serviços que comercializam e que com a rapidez de um click já lhes estão a aumentar a facturação.
Fazem muito bem, as empresas, entenda-se.

O que pretendo defender é que o Facebook é algo que se alimentou a si mesmo, cresceu desmesuradamente e espanta-me o papel que passou a desempenhar na vida de muita gente. No futuro estou curioso para ver o que vai acontecer: irá desaparecer da mesma forma que apareceu, rápida e inesperadamente? Que outras funcionalidades poderá ainda vir a oferecer no futuro aos seus “aderentes”? Tornar-se-á num colosso da era da Internet fazendo a Google ou o Yahoo parecerem micro-empresas? A estreia em bolsa resultará noutra bolha dot-com?

Veremos, cá estarei para defender o meu ponto de vista e disposto a reconhecer que estava errado, se o futuro assim o provar.

Só para não parecer que sou do contra e que só digo mal, gostei mesmo do filme. Da interpretação e do argumento.

7 comentários:

Nuno disse...

Chiça rapaz, para o que havia de te dar, o teu post mais parece uma dissertação. Tens que aprender a ser mais conciso se queres treinar para entrar no Facebook :D

É evidente que tens muito bons argumentos mas parece-me que foste muito detalhada e cáustico nas críticas enquanto desvalorizaste as vantagens.

Eu estou à vontadíssima para falar porque tenho conta mas desistia amanhã, se fosse preciso. Acho que a chave da questão referiste-a tu mesmo - é o que cada um fizer daquilo, e isso é verdade para qualquer criação. As críticas que fizeste também foram feitas ao telemóvel quando apareceu e bem me lembro de imensas pessoas que o desdenhavam mas hoje não conheço ninguém que o não tenha - é como dizes uma necessidade que se alimentou a si própria.

É um tema interessantíssimo e havia imenso a dizer, mas como não quero açambarcar todos os argumentos ao resto do pessoal, finalizo com um pensamento: disseste que resolveu-se o problema em 74 pondo o Grândola Vila Morena a tocar, mas não te esqueças que o problema levou 48 anos a ser resolvido! Graças às redes sociais, à internet, etc, hoje convocam-se manifestações em horas e provavelmente nunca mais será possível algum tiranete tentar brutalizar o seu povo sem que alguém filme com o seu telemóvel e ponha na sua rede social para todo o mundo testemunhar. Hoje 80 milhões de egípcios preparam-se para ter a sua democracia, e se o Facebook teve 1% da responsabilidade para mim será uma empresa privada que já cumpriu largamente com a sua função social.

André disse...

Comentário do Nuno --> Gosto
:p
Pois...Estás a "atirar a água do banho com o bébé". Demostrarias mais bom senso se "estivesses" no Facebook e fizesses a utilização que mais te apetecesses. Assim, acho que não passa de teimosia tua estares "fora".

CEO disse...

Bom senso é estar no Facebook? Teimosia é estar fora? Assim só me dás razão!!

João disse...

Eu não tenho facebook e nem tenciono ter. Faço o que quero da net e já gasto demasiado tempo nela. Imagino se tivesse facebook.

Não tenciono criticar, mas acho piada agora todo ser "fácil" e "rápido" no facebook.

Falo um exemplo que me toca em particular: Ouvir os meus amigos, "agora é que conheço bué da bandas novas pelo facebook..", eu sem facebook conheço imensas bandas e muitas delas até de forma casual, basta andares nos sites certos!

Quanto à badalada importância nas revoluções...pode ajudar a mobilizar mais pessoas e até de forma mais rápida. Mas antes disso, sempre ouve revoluções e manifestações, sem internet, sem mail, sem facebook. Basta haver vontade e um grupo que comece. Aliás pegando no nosso exemplo da "geração à rasca", falou-se tanto no facebook, mas quase que aposto que se não tivesse havido metade do tempo de antena que tiveram nos media antes da manifestação, nem metade das pessoas teriam aparecido! Na minha opinião, os media é que são importantes e o facebook é mais uma ferramenta, nada mais.

Por fim, Nuno aponto só um pequeno erro na tua "defesa", a nossa revolução não demorou 48 anos, isso foi a ditadura! Em termos básico, para haver revolução tem de haver um grupo com vontade e mais importante, com capacidade para a "provocar". Duvido que essas condições estivessem presentes desde o inicio da era Salazar. O mesmo se aplica à era Mubarak e outras, e mais uma vez não acho que tenha sido o facebook a mudar isso.

Nuno disse...

João, sim foi a ditadura que durou 48 anos mas ela apareceu porque se criaram as condições para isso, ou seja, a crise financeira portuguesa do início do séc XX e apodrecimento do regime republicano da altura, soa familiar, não?
O que não havia na altura era a informação que há hoje e a ligação dos portugueses uns aos outros e ao mundo que há hoje seja pela TV, telemóvel, Facebook ou o que for! É completamente impossível hoje em dia um regime do mesmo tipo e com uma tal duração porque há muito mais awareness da população.

Além disso, vocês continuam a tecer críticas com base em julgamentos de valor e exemplos de conhecidos vossos, o que não é correcto.

No outro dia li na net que uma americana foi expulsa de um comboio da Amtrak porque foi 15 horas seguidas ao telemóvel (sim, 15 horas!!!) na carruagem silenciosa (telemóvel proibido). Devemos deitar todos o telemóvel fora?!

Não rejeito a vossa legitimidade para não ter conta, agora não venham é com desculpas esfarrapadas do amigo que posta isto e da amiga que pergunta aquilo. Vocês não deixam de ter iphones e televisões e net e email e outras coisas apesar disto ou daquilo. Se não querem ter conta não têm, mas foi uma decisão que vocês tomaram primeiro com base numa ideia pré-concebida e só depois se vão justificar com esses pequenos casos.

João disse...

Nuno, o vocês não devia ser usado. Se voltares a ler o meu comentário, vez que eu não critico o facebook em si e o seu uso...só defendo que a sua importância não é assim tão grande como querem fazer passar.

Aliás tu acabas por concordar comigo quando dizes "O que não havia na altura era a informação que há hoje e a ligação dos portugueses uns aos outros e ao mundo que há hoje seja pela TV, telemóvel, Facebook ou o que for!"

É exactamente isso que eu defendo, é só mais uma ferramenta, que não és obrigado a ter, e quem não tem não deve sentir-se excluido. Por exemplo, milhões de pessoas usam a internet no telemóvel, eu nunca usei internet no telemóvel.
São situações comparáveis, mas é mais "grave" não ter facebook do que não usar internet no telemóvel...esta lógica é que me incomoda.

Off-topic, "João, sim foi a ditadura que durou 48 anos mas ela apareceu porque se criaram as condições para isso, ou seja, a crise financeira portuguesa do início do séc XX e apodrecimento do regime republicano da altura, soa familiar, não?"
Por acaso é algo que anda na minha cabeça! Não queres fazer um post sobre isso? Acho que daria uma boa discussão e acho que é um assunto que devemos reflectir.

Nuno disse...

Sim realmente é uma boa ideia para um post. Talvez em breve, quando não for demasiado desmoralizador para o pessoal :/