sábado, 27 de novembro de 2010

1945 – 2010: É muito diferente!

Deixem-me defender os alemães, pelo menos desta vez.

Depois do fim da II Grande Guerra os EUA e os países europeus “botaram” a mão à Alemanha e, mesmo tendo-a esquartejado, ajudaram-na a recuperar da guerra e do domínio nazi de cabeça erguida e com meios para voltar a erguer-se. Foram impostas uma serie de condições, como um poderio militar muito limitado e os alemães lá se safaram. Muito bem, diga-se. Melhor do que o resto da Europa, também ela em parte destruída.

E pronto, este é um dos argumentos que muitos países vêem agora reclamar, mais ou menos explicitamente, como uma razão para a Alemanha os ajudar agora, no âmbito da UE e da Zona euro. Estão a utilizar um argumento muito sensível e a servir-se de uma análise simplista na minha opinião.
Isto porque se esquecem, ou querem esquecer, que depois de 45 a Alemanha cumpriu todas as regras e condições impostas, algo que não se passou nos últimos anos, com os países periféricos a ultrapassarem os défices muito além dos 3% (!!!) exigidos no PEC. O PEC é actualmente algo completamente ridicularizado! Para além disso todos os fundos comunitários que foram gastos (doações, leia-se) nesses países (com o FEDER, com a PAC etc etc) já deveriam tornar-nos mais agradecidos do que pedinchões crónicos.

Em cima disto tudo, não faz muito sentido estarmos a comparar uma situação de guerra, com uma situação de “meras” dificuldades económicas. É mau, mas não morre ninguém. Em 45 morriam, literalmente. Eu gostava muito que a Alemanha nos ajudasse, mas se isso não acontecer não vou ficar ressentido, isto porque Portugal não cumpriu as regras da EU nem do PEC. E culpar a crise não resolve. A UE é um contrato, não é a Santa Casa da Misericórdia.

E só espero que ninguém se lembre de ir pedir ajuda aos EUA, porque esses sim, estão tão fartos de ouvir a velha Europa lamentar-se que ainda nos apagam do mapa :p

2 comentários:

João disse...

Tenho de discordar. Não creio que seja essa a razão de os países acharem que devem ter ajuda da Alemanha. Aliás se analisarmos bem, não me parece que os países que agora precisam de ajuda tenham tido grande importância na ajuda prestada à Alemanha em 45.

Relativamente à principal questão, a dos problemas actuais, é uma discussão com muitos pontos de vista. Eu percebo quando falas que temos regras e não as cumprimos, que não soubemos aplicar as doações, eu próprio defendo muito essa ideia. Mas a verdade é que as regras são "impostas" pelos mais fortes" e nas regras económicas/financeiras, a Alemanha é a senhora poderosa.
Muito provavelmente as regras são bem mais alemãs do que europa a 27, não sei se me fiz entender...
E neste caso, já penso que a Alemanha tem um papel a desempenhar agora, nem que seja a tornar as regras mais flexíveis e a criar condições para os países não ficarem nas mãos da opinião das agências de rating, que parecem-me ter uma bela agenda de investimento e serem pouco racionais.
E para acabar acho que devo lembrar de uma coisa que me parece esquecida: aqui à uns anos (não me lembro quantos) a própria Alemanha teve problemas com o seu défice que passou os 3% e nessa altura as regras foram bem flexíveis e houve pouca pressão sobre esse assunto.
Não haverá "um pau e duas medidas"?

Nuno disse...

Eu concordo com os dois. Também não acho que as regras actuais da Europa tenham assim tanto que ver com a 2ª Guerra. Tem sim com a queda do muro de Berlim. Nessa altura o Mitterrand pôs como condição à reunificação alemã que eles aceitassem o Euro, o que foi aceite como sabemos. A partir daí foram definidas regras porque é natural que os mais responsáveis e os mais sólidos não queiram sofrer com a falta de disciplina dos outros. Se eu fosse alemão pensava, «então nós pagamos quase tudo na UE, somos trabalhadores e competitivos e temos estes países pendurados em nós sempre a exigir "mamar" mais e mais, e depois quando estouram de vez ainda nos acusam de querer beneficiar os especuladores e o capitalismo selvagem?!» Penso que a maioria dos eleitores alemães pensa assim o que explica o comportamento recente da Sra. Merkel.
Só gostava de saber onde anda metido o BCE. A Fed anda a injectar dinheiro à bruta no sistema para desvalorizar o dólar e lixar os chineses; aqui na Europa têm de ser os países e o FMI a constituir o Fundo de Estabilização?