sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Agora sim, estou assustado!!

Há uns tempos escrevi um texto aqui (“Just calm the fuck down”) em que basicamente dizia para termos todos calma, o mundo não vai acabar com esta crise. Bem, agora o título deste post poderia ser “Go ahead, just loose it!!”. Os factos mudam, eu mudo de opinião. Quando ouço alguém muito bem informado e com formação considerar a hipótese de abandonarmos o Euro por nossa própria iniciativa como sendo um caminho plausível para solucionarmos a crise nacional actual fico arrepiado. Foi isso que li na coluna do jornalista Nicolau Santos no Expresso. Basicamente ele dá-nos duas escolhas, andarmos uma década a penar, ou sair da zona euro e acabar com a crise em 2 anos (porque permitiríamos a depreciação do escudo e melhorar as contas externas e tudo melhoraria a partir daí). Não há nada de errado nesta assumpção, provavelmente aconteceria isso mesmo.

O que há de errado é esquecer o que viria depois. O jornalista admite que passado uns anos nos seria ser permitido voltar a zona euro. Na minha opinião isso está errado porque a CE nunca iria permitir esta autêntica cowboiada de Portugal de sai e entra. Depois porque Portugal fora da zona euro iria perder a pouca credibilidade que lhe resta e seria uma Argentina da Europa e seria (justamente) cilindrado nos mercados internacionais quer em termos de dívida pública quer em termos de importações.

Além disso a UE e a zona euro não é propriamente um brincadeira de crianças em que à primeira dificuldade se salta fora. O Euro tem apenas 9 anos e na primeira crise já queremos sair?!

Admiro muito o jornalista e não sou uma pessoa dogmática mas existem coisas que simplesmente não se podem colocar em cima da mesa. Temos de ser crescidinhos e lidar com as asneiras que fizemos.

Ainda no outro dia tive uma conversa de altíssimo nível com o João (quase só faltava estarmos a beber um Porto de boina na cabeça) em que concluímos que mais do que os políticos o nosso país (todos os países talvez) precisa é de uma revolução social que nos leve para um melhor Estado do que o que temos actualmente e para uma sociedade mais justa. Ainda que tenhamos discordado um pouco no conceito de sociedade justa...Mas isso daria outro post :p

6 comentários:

Delindro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Delindro disse...

Melhor estado? Eu acho que precisamos de MENOR ESTADO.

João disse...

Melhor Estado não implica maior Estado.
Aliás uma das ideias gerais que lançamos na conversa e que ambos concordamos iria reduzir o papel do Estado.

CEO disse...

É um cliché mas é a minha opinião: enquanto as mentalidades não mudarem, nada feito. Falo por mim e por todos os que se indignam com o despesismo do Governo e corrupção nas altas esferas.
Quantos de nós não cometeriam os mesmos "pecados" perante as mesmas circunstâncias?

Quem é que pede factura nos restaurantes?
Quem é que não aceitaria receber um ordenado por fora se isso significasse menos IRS no recibo de vencimento?
Quem é que se preocupa em gastar menos ou preservar os bens públicos de forma a evitar mais despesa do Estado?
Etc, etc, etc...

Nuno disse...

Mais um post e comentários de elevadíssimo nível. Eu não concordo com o Nicolau, não quero uma repetição dos anos 80 com inflação e taxas de juro nos dois dígitos em nome de alguma competitividade comercial. E como iríamos cumprir o serviço da dívida em divisas com a nossa moeda sempre a desvalorizar? Já repararam que Portugal sempre preferiu recorrer a "truques" e soluções rápidas para resolver os seus problemas? Quando um grupo de países usa a mesma moeda, as respectivas balanças comerciais são um excelente indicador sobre a competitividade das suas empresas. Já é mais do que tempo de nos deixarmos de choradeiras e resolver esse problema.

Quanto à questão das mentalidades, precisamos sem dúvida de uma mudança. Há que incutir no povo português o sentido de comunidade e respeito pela coisa pública, há demasiada gente encostada ao Estado, sempre a estudar onde pode beneficiar do dinheiro dos contribuintes, e não são só os políticos. É preciso também uma exigência maior em relação a todos os cargos de liderança. Mas acima de tudo temos de rejeitar este Estado paternalista de quem se espera a iniciativa em demasiadas áreas, desde a assistência social até à Economia (e isto já desde os Descobrimentos, passando pela Revolução Industrial, que nos países anglo-saxónicos se fez pela iniciativa privada e aqui pelo voluntarismo do Estado). Os portugueses têm um medo de morte de arriscar alguma coisa. E é isto que leva à existência desta máquina enorme e desorganizada, porque apesar de todos os cidadãos se queixarem dele, no fundo quando estão sozinhos na cabina de voto são assaltados pela dúvida terrível, o que faremos sem ele?

PS: Delindro, posso depreender que amanhã vais apresentar a demissão? Já era menos um...

Delindro disse...

Não apresento a demissão porque estou numa área que acho que tem que ser de intervenção do Estado. Fiscalização e Regulação são funções do estado.